sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Código Nulo: O Processo de Dessemantização e suas Finalidades

A língua limita o pensamento do Ser Humano. A mídia delimita a língua ao fixar um campo semântico para a população cidadã/espectadora. Paulatina e oportunamente esse mecanismo de delimitação de linguagem em campos semânticos induz à modificação de conceitos em Tabus para que sejam, os seus valores, negociados em meio à disputa por poder político. O argumento consiste em que ao se limitar a linguagem da população, sua participação política é limitada também. Esporadicamente tem-se chamado a esse processo de dessemantização.

Dessemantização I. Uma Introdução

O projeto é pertinente ao Programa porque propõe um meio de contra-controle à atuação das empresas de comunicação em relação às suas responsabilidades discursivas de divulgação de informações sem colocar em risco as instituições nacionais e os valores caros às mesmas.

A pertinência em relação à Linha de Pesquisa deve-se à descrição de um mecanismo simples e habitual utilizado pelo discurso midiático para manter o controle sócio-político de populações, porém esse mecanismo de dessemantização tem muita influência na produção de sentido delas, e tem também uma contribuição na estruturação do ethos midiático, o quarto bios descrito por Muniz Sodré em sua "Antropológica do Espelho", que consiste em uma esfera de vida surgida decorrente da presença da mídia na contemporaneidade. Uma presença que toma para si a capacidade de desejar dos cidadãos, mas nem sempre é responsável pelo contexto histórico tão caros a existência dos mesmos. Controle que é mantido, muitas vezes, sem um contra-controle o que limite, perfazendo assim uma situação institucionalmente perigosa. O Contra-controle é um conceito tomado do behaviorismo metodológico que consiste em afirmar que para cada controle aceito naturalmente em uma determinada contingência deve existir um contra-controle que, por sua vez, limite o primeiro.

Dessemantização II. O Objeto

O assunto da pesquisa é a significação que o material veiculado na mídia tem para aqueles que dependem dela para obter referências e informações sobre os mais diversos temas, e a maneira como é possível criar dependência a essa fonte de informações em relação a outras maneiras de formar opinião sobre um determinado assunto, e como, por exemplo, o livre-pensar almejado pela educação plenamente qualificativa que forma técnicas de pesquisa independente para avançar no mercado de trabalho, na vida política, ou na vida social, ou ainda, outro exemplo, seria a proficiência de leitura para afirmar um pensamento crítico em face aos acontecimentos do país e do mundo.

O problema da pesquisa é o desaparecimento do significado de um conceito frente ao jogo de interesses ao qual uma população é exposta quando procura atender a sua própria demanda comunicativa. Tabu é uma palavra polinésia, que segundo Stephen Ullmann, foi introduzida em língua inglesa por Cook, e consta uma pertinente bibliografia na obra de Ullmann acerca desse conceito. A palavra designa tanto algo sagrado como algo proibido, ou perigoso. A pertinência se dá devido ao funcionamento desse conceito:

"O tabu é de vital importância para o pesquisador porque impõe uma interdição não apenas sobre certas pessoas, animais e coisas, como também sobre seus nomes. Na maioria dos casos, ainda que não em todos, a palavra submetida ao tabu será abandonada e um substituto inofensivo, um eufemismo será introduzido para chamar o vazio. Nisto se entranhará com freqüência um ajuste na significação da palavra substituta, e deste modo o tabu é uma causa importante nas mudanças de semânticas."

A palavra exemplo escolhida para essa pesquisa foi a palavra corrupção devido ao caos que esse conceito referenciou como resultado da disputa explícita e evidente entre a mídia e as instituições do país no último biênio. Recentemente tem-se omitido essa palavra pelo excesso de confusão acerca dela, sendo esquecidos os valores aos quais dela seria o conteúdo, e o sentido original ou alegado dela passou para segundo plano tornando-se uma espécie de grito de guerra carente de denotação, cabendo a ele apenas uma função conotativa. Poderíamos cercar o significado de outro termo, como, por exemplo apagão que foi tomado recentemente em disputa clara em um sintagma com aéreo, em oposição ao objeto de uma disputa eleitoral passada, exemplos não faltariam para uma tal jornada de pesquisa linguística mais específica.

Este estudo se torna relevante pela necessidade de se comunicar especificamente um significado ou outro acerca de conceitos de civilização que são fundamentais para o seu desenvolvimento no tempo histórico, e para colocar-se em perspectiva a luta histórica, ao invés de transformá-la em algo excludente e privado de conteúdo ou expressão cuja meta única é chegar ao final de processos eleitorais periódicos visando apenas seus interesses sócio-econômicos particulares satisfeitos, em desprezo à coisa pública.

Esta tese se torna original devido a uma suposta identificação precisa do ponto fraco da politica comunicacional privada, e demandando conseqüentemente uma imposição pública nos pontos específicos de operação da dessemantização no contexto social para que a comunicação se destine realmente à utilidade pública, muito além da caça a hackers, tão somente, da internet.

Dessemantização III. Teoria de Referência

Quanto à inserção do Projeto de Pesquisa em um universo mais amplo é de se ressalvar que a semântica na linguística tem uma posição marginal pela dificuldade técnica de se determinar um objeto mais específico de pesquisa, sendo apriorístico, para a pesquisa sobreviver, a necessidade de atenção às propriedades gerais do objeto da semântica em direção às propriedades mais particularizadas (Duarte Marques), e em torno dessas propriedades gerais deve ser efetuada a pesquisa para que se descreva o objeto em área coligada à comunicação. Por outro lado a semântica é uma ordem de conhecimento das mais antigas em relação ao estudo da linguagem, sendo possível identificar a necessidade do ser humano em estabelecer, entender, desenvolver e identificar o significado de palavras, frases e sentenças entre aquelas atividades, científicas ou não, das mais antigas que se tem notícia.

Entretanto, em comunicação, quando se tem um emissor, um receptor e uma mensagem a ser transmitida por um canal, em se falando minimalisticamente, é necessário que se estabeleçam procedimentos teóricos (desde que se tem operado um estudo mais sistemático de comunicação) para se assegurar que o sentido seja interpretado, o mais fidedignamente possível, quanto ao resultado almejado pelo emissor da mensagem, logo o estudo da dessemantização é pertinente. Este sentido pode ser ampliado para interesses mais universais como cidadania, sociedade, história, e civilização, mesmo que não estejamos pressupondo um significado para qualquer conteúdo midiático.

Toda a comunicação tem um aspecto conteúdo e outro aspecto relação (Duarte Marques), significa afirmar que seu aspecto conteúdo pode ser modificado, segundo certas limitações, em outro conteúdo próximo ao primeiro. A esse fenômeno dá-se o nome de extensão (Ullmann) do significado a medida que cada vez mais coisas ele possa representar. Quando o significado é onerado excessivamente, o mesmo tende a desaparecer dando lugar a outro significado, como por exemplo a palavra Vossa Mercê e a palavra Você sem a formalidade alçada por aquela. Podem surgir novas significações de acordo com a extensão do sentido. Questiona-se a mídia devido à força comunicativa que ela tem. Por outro lado reconhece-se a possibilidade da mídia internet de poder diluir segundo uma população maior os efeitos gerais da mídia como um todo.

A Competência Linguística (Duarte Marques) do espectador perceber, aprender e apreender o significado das formas linguísticas, adaptado aqui pela capacidade de apropriar-se se uma proposição (Skinner), que é o sentido resultante da interação de dois significados para um indivíduo em seu Comportamento Verbal (Skinner). E ainda, levando em consideração, o conceito de caráter como aspecto do ethos comunicativo que significa, por sua vez, o ambiente que envolve o sujeito e também o conjunto habitual de suas atitudes. A dessemantização pertence a esfera conotativa da linguagem, e sua ação é quase um golpe sobre a a esfera denotativa, aonde o valor conotativo construído ao longo do tempo passa quase a ser a própria esfera denotativa. Pertinente se lembrar que em alguns veículos temos além do texto, a imagem, e muitas vezes a imagem em movimento, mas o texto, ao ser apresentado juntamente, com a imagem "ancora" o sentido dela, impõe os limites significativos dela.

Faz-se ressalva à diferença entre palavra e refente, a palavra é um termo genérico que compreende semântica, sintática, fonética e morfologia, referente é um termo que faz oposição, em Skinner, ao significado. Neste Projeto tem-se procurado utilizar adequadamente ambos os conceitos. Skinner por sua vez se utiliza de dois conceitos diversos para o comportamento verbal, que é o conceito de proposição e de sentença, que resumidamente significa que a proposição surge entre as sentenças que são produzidas de acordo com o significado que os sujeitos lhes atribui. Já o termo significante é o que faz oposição em Saussure ao significado, e não envolve contingências dos sujeitos como se dá em Skinner. Saussure ainda conceitua como sistema a inter-relação entre significante e significado, assim como o faz também Watzlawick. No entanto, este último faz uso do termo estrutura que é estranho a Saussure, mas antes é familiar à Jacobson. Aquele se utilizava apenas do conceito de significado, já Hjemlev dividia o significado em conteúdo e expressão. Para o estruturalismo, estrutura é o conjunto de faces de um objeto que não pode ser alçado por inteiro, só em partes. Na gramática gerativa, existem desempenho e competência, o primeiro se refere a eficácia de um texto, o segundo se refere à eficiência dos termos. Podem ser comparados latu senso com parole e performance de Saussure, respectivamente. O termo langue que significa língua, um produto social, se complementa à linguagem que é o conjunto de estruturas possíveis, já a utilização concreta é a fala, a língua se situaria entre os dois, mas contemplaria o Comportamento verbal Criativo (Skinner) enquanto Constelação Semântica seria privado de criatividade e com limites bastante fixados e imobilizados. Assim nesse projeto fez uma ligeira apropriação do sentido de Campo Semântico para fazer emergir o mecanismo de processo de formação de Tabus, a Dessemantização.

Toda essa comparação e situação epistemológica é resultado da comparação bibliográfica consultada para o presente projeto, foi preferível descrever amplamente sem entrar em pormenores específicos de aonde foi encontrado, autor obra, para facilitar a exposição, deixando a tarefa para depois.

Em Ullmann, pode-se justificar que a mídia não conseguiria executar o processo de dessemantização, por que a "Natura non facit saltus"(A natureza não dá saltos), qualquer que seja a mudança de sentido que uma palavra pode sofrer segundo a produção de Tabus deve haver sempre uma conexão entre o significado velho e o novo. O processo de modificação por dessemantização em é tanto mais possível, quanto menos concreto for o seu significado, quanto mais conceitual e mais genérico for o objeto que o denomina. Algumas tribo indígenas que possuem uma palavra para cada tipo de pássaro, enquanto um termo apenas genérico para todos os pássaros não existe. Desta maneira: existe uma palavra para um pássaro que é azul, outra palavra para um pássaro que é verde, mas nenhuma palavra para o conjunto genérico "pássaros". Da mesma maneira em alguma culturas não existe um significante que referencie liberdade, por exemplo, por ser um conceito abstrato. Para concluir, é tanto mais difícil dessemantizar um significante que identifique um pássaro azul, com bico, e algumas cores, conforme sua especificidade, do que uma palavra que não possui referencial concreto e consensual como a palavra corrupção. Ou seja, uma fonte de imprecisão é o caráter genérico de algumas palavras.

De Ullmann se retirou um importante conceito para este Projeto de Pesquisa, que é "um problema esquivo mas crucial a influência da linguagem sobre o pensamento", ou hipótese de Sapir-Wholf , Bacon também investigou nessa direção ao afirmar a tirania das palavras: "Os homens imaginam que suas mentes têm o domínio da linguagem, mas sucede que a linguagem é que governa suas mentes", que é um traço característico da influência da língua sobre o pensamento. Um exemplo capital se encontra na Obra "Semãntica, Introdução à Ciência do Significado" daquele autor:

"A relatividade da distinção das cores ajuda a explicar o comportamento de certos pacientes que sofrem de afasia, cujas reações às provas de cores foram tão irregulares que, no princípio, foram diagnosticados como daltônicos. Não havia, no entanto, nada de errôneo em seu sentido de cores, senão que haviam esquecido o nome das cores, e com elels haviam perdido a capacidade de ordenar suas sensações e dispô-las em um modelo significativo."

Existe na obra ainda um tópico sobre os artifícios fonéticos que poderia ser pertinente à crítica de modulação de voz quando um conceito "candidato" a Tabu é citado oralmente na programação como um todo.

Ainda na obra se Stephen Ullmann se encontrava a importância do Campo Semântico e a descrição de seu funcionamento na teoria da linguagem, que o autor retirou de Saussure para apresentar em sua obra. A Competência Linguística (Duarte Marques) do falante é limitada conforme se limita seu Campo Semântico (Saussure em Ullmann), devido a restrição de sua Contingência Verbal (Skinnner).

Em Mattelart, citando Katz, a mídia é um "mestre de cerimônias" que nos diz não o que devemos pensar, mas em quê se deve pensar, deduz-se daí que essa declaração implicaria em um avanço da semântica sobre a sintaxe, e resultam conceitos da relação sintagmática entre termos semânticos, resultando por sua vez uma semântica inesperada do aspecto sintático. Se de um lado temos a comunicação como ato verbal isolado, consciente e voluntário (Skinner), temos por outro lado a comunicação como processo social permanente que integra múltiplos modos de comportamento (Watzlawick). Em ambos os modos pode-se vislumbrar os desdobramentos no aspecto lexical de populações como decorrência da eufemistização de instituições, com a fabricação de premissas de Terceira Ordem pela mídia visando o processo eletivo. Ainda em mattelart, citando Katz:

"A influência da mídia é limitada (a seletividade dos receptores constitui obstáculo), não pode ser direta (pois existem intermediários como o meio, o canal), não pode ser imediata (pois o processo de influência requer tempo).

Dessa seletividade de que estamos falando quando se supõe que a mídia não diz o que pensar mas em que pensar, pois seria obrigatória a inexistência de obstáculo como a seletividade se receptores. No entanto, essa citação demonstra por que deve ser paulatina, lenta e estratégica a eufimistização de alguns referentes na mídia. As Premissas de Terceira Ordem são citadas em Watzlawick, e comparando-as com o que Skinner identificou como Contingência Verbal, esse é resultado dessa comparação: O hábito de adquirir informação pela mídia ocasiona a capacidade de tolerar ou não tolerar mudanças em contingências verbais, sendo que o seu pensamento passa a se limitar pelo verbal e não-verbal veiculados pela mídia, lembrando que o texto sempre ancora a imagem (Gestalt). Campo Semântico é a quantidade de associações que uma palavra permite que a língua estabeleça ao redor de seu sentido. "A partir de saturação do sentido por operação metonímica queimando etapas entre significados, e encurtando as distâncias para facilitar a rápida intuição de coisa já sabida"(M. Esnault em Ullmann), assim toma-se conhecimento da ocorrência de conteúdos subentendidos que podem ser pulados sem serem citados, mas já pré-estabelecidos em uma Constelação Semântica da qual o sujeito tem conhecimento, e se pode já projetar o surgimento de outras operações metonímicas com desenvolvimento "pejorativos ou evolutivos"(Ullmann). Tal operação por sintagma em palavras Tabus, saturam o sentido da palavra, frase ou sentença, e é como se a palavra fosse "pulada". Assim se interdita o significante com a oneração excessiva de seu significado, que é uma extensão ou Tabu de seu significado, apesar da repetição de seu significante no discurso da mídia. Desta maneira o código mantem-se nulo, e o feito limitador do Campo Semântico limita o pensar do sujeito. Pode-se observar que a palavra com seu sentido difuso e enevoado serve de "moeda" de negociação entre as empresas de veiculação e quem ambiciona o poder, mas não se pode afirmar que este seja um processo simples, direto e rápido, lembrando a citação de Katz, antes deste parágrafo. Mas, mesmo assim, a mídia consegue se apresentar como o portador mais qualificado do conhecimento. Já o Tabu constituído não se soluciona jamais, o que representa uma anti-pedagogia tecnológica. Assim não se pode utilizar, de maneira elucidativa, um Tabu, porque o significante não remete à um conceito claro.

Decidiu-se que seria mais pertinente ao escopo psicológico desse Projeto que se mostrasse a proximidade comparativa de duas escolas academicamente afins, que são o Behaviorismo Metodológico de B.F. Skinner e a Escola da Palo Alto de Paul Watzlawick.

Para isso se faz necessário lembrar que as teorias da Escola de Palo Alto são aplicáveis ao sujeito mesmo quando não há um veículo de intermediação, como um material ou canal, mas esta teoria acrescenta no sentido de que existe limites à comunicação e complementa às posições do behaviorismo que aceita que ocorra canais com entre os sujeitos que estabelecem comunicação entre si. Segundo Watzlawick e colaboradores não há comunicação isolada, ou seja se "b" influencia "a", então conseqüentemente "a" influencia "b", e se constitui sempre uma operação de dois sentidos, a comunicação. Ao se considerar que a linguagem como um sistema aberto, se observa uma limitação inerente à mídia, pois o Campo Semântico não poderia ser rígido, e não o é, mas disso se tem consciência quando se procura influenciar pessoas, ou massas, senão a Publicidade e Propaganda não teriam razão de ser. Acontece que no sistema de broadcast ainda é um pouco mais controlável, mas no sistema de redes digitais o conteúdo se torna mais volátil. Um sistema aberto é Global, isso significa que tem duas propriedades intrínsecas: Não-sumatividade e Não-unilateralidade. O sistema aberto é não-sumativo por que não pode ser desprezada a possibilidade do Campo Semântico se realinhar de outra forma, produzindo novos significados não controláveis, e sem unilateralidade, porque "b" influencia "a" e "a" influencia "b" enquanto este está influenciando "a", como já foi explicitado. A Escola de Palo Alto deixou em aberto a existência de uma mídia entre ambos, mas se aplicarmos a perspectiva ad infinitum, mostra-se desnecessária a existência de mídia entre ambos, uma suposição bastante ambiciosa que se faz mais pertinente deviso aos sistemas de rede se comunicação (P2P, web, internet, vida cotidiana, entidades sociais, entidades cidadãs). Assim fica caracterizada a circularidade natural entre os sistemas de comunicação, sendo necessário sempre contextualizar os sujeitos para compreender a interação deles com seu contexto, seu caráter, seu ethos midiático. Segundo a Escola de Palo Alto existem três modos de comunicação: Mensagem, Interação e Padrão que agem em um sistema. O padrão comunicativo é linear, o que pode ser pertinente às redes, assim:

Relato => Agente => Ordem

O sistema de interações entre indivíduos pode-se afirmar que é o resultado do conjunto de proposições possíveis em uma língua. O behaviorismo é útil, assim, ao estabelecer o conceito de contra-controle, que se pode visualizar ao se apresentar no modelo teórico, assim se procura desqualificar a tentativa da mídia de estabelecer controle com processos de formação de Tabus, se colocando como obstáculo temporário ao fortalecimento das instituições em oposição aos interesses individuais. A mídia, ao fomentar Premissas de Terceira Ordem, se mostra como um agente eficaz e poderoso, com suas contingências surgindo de paradoxos, e ao estabelecer as contingências na fronteira dos paradoxos, que é a formatação de tabus, pois o tabu é um paradoxo semântico, nada mais, estabelece os limites da vida privada. A Premissa de Terceira Ordem é descrita por Watzlawick e corroborada pelo comportamentalismo de Skinner, tal premissa é simplesmente o limite em que os seres vivos estão circunscritos, e que não conseguem ultrapassar sem viver uma espécie de terror. Deduz-se que além de ineficiente a insistência midiática de se manter com a produção de tabus, também é um sério risco à saúde das instituições, da sociedade e até mesmo da própria mídia.

Em Skinner, sobre o Comportamento Verbal Criativo:

"No comportamento verbal, como em todo comportamento operante, formas originais de resposta são suscitadas por situações as quais uma pessoa não foi anteriormente exposta... ...há processos comportamentais que ocasionam mutações... ...Assim devemos buscar: Um Ambiente construtivo, e não uma mente construtiva... ...o pensamento criador preocupa-se grandemente com mutações... ..diferentes história podem conduzir a diferentes cenários e novas respostas"

Dessemantização IV. Os Objetivos

Os objetivos gerais são direcionados para a contribuição de uma atitude crítica em relação ao que se nos apresenta diariamente pelos veículos de comunicação, bem como sensibilizar essas empresas na direção de uma apresentação mais civilizada de seus pontos de vista, por mais que pareçam alegadamente imparciais, de forma que contribuam mais eficazmente para a vida pública, mesmo porque os objetivos em influenciar são limitados pela busca natural do ser humano por sentido, constituindo assim a postura, dos meios de comunicação, apenas como empecílio contemporizador em relação ao rumo mais natural da cidadania. Um objetivo prático consiste em mostrar um caminho que torne mais objetiva as informações, principalmente acerca de política, veiculada na mídia, para que o processo eleitoral se volte mais para a discussão de possibilidades de país e menos para uma guerra velada entre os mesmos agentes políticos.

Um objetivo geral é contribuir para a ciência da comunicação desvelando um mecanismo de produção de sentido, de limitação de significado e de suposta manipulação de informações, levando em consideração que a vida midiática é uma realidade, e assim precisa de ajustes que a tornem o mais pública possível.

Dessemantização V. Os Procedimentos Metodológicos

Existe uma sigla em marketing que descreve a operação persuasiva de provocação de uma ação qualquer em alguém, AIDA, que significa chamar a Atenção do interlocutor, Informá-lo de maneira a lhe despertar um Desejo, e conseguir dele a Aquisição de uma mercadoria, no caso mais geral exposto nesse projeto, o último "A" pode representar a Adesão a uma causa ou Aceitação de um significado que é oferecido tal e qual uma situação de venda persuasiva. Esta sigla é bastante divulgada, e talvez não careça de citação bibliográfica. Supondo que a principal fonte de informação do público é a televisão, então o princípio é simples, ao invés de solucionar um desejo despertado pela programação, uma vez que na figura mitológica da "era do conhecimento" o telespectador tenha uma necessidade de adquirir uma informação para se sentir mais qualificado, oferece-se um significado difuso e sobrecarregado apenas ocasiona mais atenção do espectador no objeto veiculado, e uma vez que aquele que está exposto à mensagem nunca tem seu desejo de ser informado satisfeito continua na expectativa de receber a informação estratégica, se mantendo, com isso, preso à audiência. A eficácia desse tecnicismo em marketing se deve ao se colocar aparentemente em risco à segurança ontológica do sujeito.

Antes de expor as generalidades da pesquisa, deve-se expor alguns conceitos: Tem-se língua como produto social, conjunto de convenções e sistema de signos em potencial, a fala é uso individual, momentâneo e concreto da língua. A dessemantização ou eufemistização produz influência sobre a língua do indivíduo, mas decorre desdobramentos sobre a fala dele. Isso é o que se procura observar na futura pesquisa de campo.

A pesquisa tem três questionamentos básicos sobre a significação da audiência em relação à mensagem significada. Os três elementos de pesquisa devem ser auferidos segundo uma população e apresentados em seqüência, para que se possa observar melhor o efeito geral das questões. A finalidade dessas questões é verificar o processo de formação de Tabus pela mídia para públicos diferenciados segundo as suas fontes de informação. Uma auferição sistêmica.

O primeiro item é referente ao posicionamento do público mediante a aquisição de informação, que indagará qual a fonte principal de informação sobre o termo dessemantizado escolhido: corrupção. A questão seria em que tipo de mídia (tv, rádio, jornais, web), em qual delas essa palavra foi mais vista, ouvida ou lida. O segundo item a ser indagado seria a escolha entre cinco conceitos inerentes à palavra corrupção segundo autores e circunstâncias históricas diferentes, e sendo uma das alternativas vazia de sentido, mas estilisticamente semelhante a um texto eufemístico. Este seria referente à conceituação da população. O terceiro item seria relativo a comparação realizada pela população com o termo corrupção, ao se oferecer alternativas curtas dessa palavra em contextos impertinentes, mas próximos, conforme conceituação intencionada e calculadamente difusa, à semelhança estilística da sua utilização dessemantizada. Esse questionário de pesquisa é composto por questões interdependentes.

O objetivo dessa pesquisa é observar a segurança ontológica (Sodré), dos sujeitos expostos à mídia. A Segurança Ontológica seria o território verbal que o sujeito precisa defender para que defenda também sua capacidade de compreender o mundo e de se situar na realidade, é o princípio que o governa, na direção de fazê-lo encontrar um sentido no meio difuso do Tabu. O sujeito seria o suporte da razão (nous) que é a "esfera do humano" somada "às suas relações histórico-culturais aonde aquela reina onipotente garantida pela tecnologia" (Sodré). A Segurança Ontológica seria o limite aceitável de sua Contingência Verbal (Skinner), e o Campo Semântico, ou Constelação Semântica (Ullmann), seriam, metaforicamente falando, as gôndolas de onde o sujeito pode ou não pode retirar significados para seu uso diário. Esse desdobramento aqui descrito é o ambiente em que a dessemantização se faz presente, e necessária.

Assim o ethos midiático se constitui pormenorizadamente como limite da existência pós-moderna, preestabelecendo as proposições (Skinner) que são permitidas por uma "língua dentro da língua", ou seja um Campo Semântico (Saussure, em Ullmann), em onde o sujeito, com maior ou menor competência, com maior ou menor desempenho (gerativismo linguístico), produzirá os sentidos necessários a sua vida social e política. A dessemantização seria um "casuísmo linguístico", que preside um quarto bios, a vida midiática, e conforme relembrado e apercebido por Muniz Sodré, o quarto âmbito existencial após os três que são: a vida política, a vida contemplativa e a vida prática, de acordo com a civilização grega. Estudar a dessemantização é investigar uma maneira estratégica de produção de sentido.

Ainda sobre o conceito de Opinião Pública, que é aquela opinião que passou por sondagem, é possível colocar sob o crivo dessa denominação uma pesquisa sobre dessemantização, o que acresceria algum valor a este Projeto de Pesquisa, e algum inusitado caráter ao termo Opinião Pública.

Nessa metodologia convém acrescentar uma ampliação da pesquisa bibliográfica para a interpretação e consideração mais profunda do conceito de semântica aplicado à comunicação, bem como investigar mais profunda e bibliograficamente o conceito pressuposição semântica tido como preciso pois, se há dessemantização, logicamente se deriva que haja também uma semântica que seja a mais pertinente a determinada situação teórica e conjunção de conceitos. Aprofundando também o estudo aplicado ao projeto da validação da relação entre os conceitos da Escola da Palo Alto e o behaviorismo metodológico em relação à eufimistização.

Dessemantização VI. As Considerações Finais

Levando em consideração que exista uma grande diversidade de conceitos neste Projeto de Pesquisa, é importante destacar que é preciso um grande instrumental para se entender o processo que norteia a existência deste trabalho. Necessário porque o objeto da pesquisa é difícil de ser circunstanciado, e em última instância se trata da produção e da origem de algumas significações da mídia para a vida pública do país, procurou-se lançar mão de tudo o que fosse ligado ao tema, e um grande esforço, ainda não finalizado, de estabelecer os primeiros pilares para a identificação de Tabus que impulsionam em sentido atomizado, a vida política aonde a mídia se faz presente.

A última consideração ruma em direção da solução específica a ser proposta para minimizar os efeitos dos processos de dessemantização na mídia, e as finalidades a que se presta essa postura de interesses. A solução é a meta-comunicação se fazendo presente, antes da auto-censura deve estar a auto-crítica, para que não deixemos impossibilitada a existência de diálogo político entre as partes de uma disputa, eleitoral ou não. Como resultado desse processo vemos agentes políticos sem a menor possibilidade de utilizar esta ou aquela palavra por causa de um tabu, que afasta da discussão nacional os conceitos mais cruciais e necessários para o desenvolvimento de uma nação.

Dessemantização VII. Referências Bibliográficas

Campbell, J., O Herói de Mil faces, Cultrix/Pensamento, São Paulo, 2000.

Castells, M., A Sociedade em Rede, A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, vol I, Paz e Terra, 1999

Kotler, P., Marketing para o Século XXI, Futura, São Paulo, 1999.

Marques, M. H. D., Iniciação à Semântica, Jorge Zahar, São Paulo, 2003

Mattelart, A. e M., História das Teorias da Comunicação, Loyola, São Paulo, 2006.

Skinner, B.F., Sobre o Bahaviorismo, Cultrix, São Paulo, 2006

Sodré, M., Antropológica do Espelho, Uma Teoria da Comunicação Linear e em Rede, Vozes, Petrópolis, 2002

Ullmann, S., Semántica, Introducion to the Science of Meaning, Oxford, Ed. Aguilar, 1962

Watzlawick, P., Beavin, J.H., e Jackson, D. D., Pragmática da Comunicação Humana, Cultrix, São Paulo, 1981.

Xavier, I., O Discurso Cinematográfico, Paz e Terra, São Paulo, 2005

Pesquisar este blog

 
Licença Creative Commons
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.